terça-feira, 4 de junho de 2013

Voz de outono

Ouve tu, meu cansado coração,
O que te diz a voz da Natureza:
 - "Mais te valera, nu e sem defesa,
Ter nascido em aspérrima soidão,

Ter gemido, ainda infante, sobre o chão
Frio e cruel da mais cruel
deveza, Do que embalar-te a Fada da beleza,
Como embalou, no berço da ilusão!

Mais valera à tua alma visionária
silenciosa e triste ter passado
Por entre o mundo hostil e a turba vária,

(Sem ver uma só flor, das mil, que amaste)
Com ódio e raiva e dor... que ter sonhado
Os sonhos ideais que tu sonhaste" 

Antero de Quental